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Extéril - Mute

Inauguração / Opening

21 - 10 - 2000


Extéril

18 h Sábado / 6 pm Saturday

MUTE

"MUTE _ 2/3 projecto por m2_ 1996/2000"


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Exposição "MUTE _ 2/3 projecto por m2_ 1996/2000"
Gonçalo Furtado, Arqº

Este texto pretende afrontar um conjunto preciso de conceitos: projecto/abstração/urbanidade, experimentação/conceptualização igualmente expressa nos projectos que apresentamos.

Arquitectura aparece no dicionário redutoramente definida como "arte de edificar", correspondendo de sobremaneira à ideia popularizada. Interessa no entanto salientar que para alguns o seu aparecimento esteve mais ligada ao aparecimento da "comunicação" do que ao mito da cabana primitiva -1-.
O prefixo "pro" de "projecto" – núcleo da praxis arquitectónica, remete

directamente para uma projecção pessoal e uma antecipação -2-. Imagem-ideia (mental ou figurada) que ambiciona ser objecto e que, independentemente da sua edificação, pode contribuir para uma reconfiguração dos modos de ver e conceber arquitectura. -3-
A criatividade em arquitectura está pois ligada antes de mais aos problemas da construção do signo, do simbolo e dos seus valores.


Nas palavras de Herzog, o projecto constitui-se como um mundo imaginário e a arquitectura concreta como uma expressão tangível de valores imateriais -4-. E, como bem acentua Zampi, o edifício é apenas uma versão de uma ideia de arquitectura, "o papel da arquitectura segue por debaixo da construção: isto é criar visões de futuros modos de viver (…)" -5-

O Projecto é uma projecção que antecipa os conteúdos e valores fundamentais, que estarão incorporados na integralidade futura do objecto arquitectónico e a construção surge como a representação dos conteúdos da poética do projecto.

Os projectos apresentados tiveram por objectivo criar um lugar e constituir ideias formo-artísticas, usando um mecanismo de abstracção.
Sobre o mecanismo de abstracção em arquitectura podemos afirmar que, se o Projecto exprime uma relação com a realidade, que é resolvida por premissas incorpóreas e de carácter significativo (de origem espiritual e cultural), a arquitectura resulta de uma abstracção no domínio da ideia que se imporá sobre o contexto imediato.

A abstracção foi um impulso que acompanhou a cultura ocidental deste século. Desde as abstracções cubistas onde ainda é possível a leitura do objecto original (Picasso, Gris,etc), as abordagens complexas de Mondrian e Kandinsky, até as posturas actuais, relativamente fechadas e sem legibilidade universal.

Este progressivo afastamento do figurativo significa também na arquitectura a evolução em direcção do conceito e por vezes a afirmação da ideia como licenciadora de todo o processo.
O "informalismo" (abstracto e geralmente não-objectual) não é pois uma corrente, mas uma crise que afecta a cultura figurativa e o seu futuro desenvolvimento histórico. (Encerrado um período em que a arte se empenhou na problemática social e política, o problema reside agora na própria possibilidade de sobrevivência da arte, perante o quadro de uma sociedade de consumo e cultura de massas).

Vários movimentos procuram preconizar a superação, com individualização de elementos formais básicos que recebem significado enquanto ordenadores inseridos num contexto. Podemos traçar grandes proximidades entre a minimal, conceptual, land art e a evocação formal da arquitectura contemporânea: narrações fragmentadas, redução formal e o tempo-movimento como fonte de projecto.

As propostas arquitectónicas apresentadas, definem-se a partir do momento que se conceptualizam mas tamém se implantam num espaço "x", que ambicionam contaminar. Procedem a narrações fragmentadas e ambicionam o movimento-transitoriedade.
A posição dominante da cultura visual contemporânea e a condição do sujeito, enquanto observador -6- que se confunde hoje com o quadro de representações, põem-se também em relevo neste projecto.
Mas, os debates centrais esteveram centrados na condição da cidade e da experiência urbana contemporânea.

Na nova realidade, surgida com a erupção da globalização, a internacionalização económica e os progressos tecnológicos e uma diversidade de fenómenos urbanos, estabelecem-se novas formas, dinâmicas e pressupostos de relacionamentos urbano territoriais baseados na mobilidade e nos fluxos.

Como refere Álvaro Domingos "A cidade compacta de limites precisos, estilhaça-se num conjunto de fragmentos distintos onde os efeitos de coesão, de continuidade e de legibilidade urbanística, dão lugar a formações territoriais urbanas complexas, territorialmente descontínuas e ocupando territórios cada vez mais alargados." -7-
Isso justifica o recurso das abordagens recentes a um conceito mais complexo de cidade - "metapólis", sem limite preciso nem centro. -8-

Essa perda de sentido na distinção centro-periferia e dos seus limites, é bem expressa na passagem "As cidades contínuas 5", de Calvino -9-
"Se oculta em qualquer bolsa ou ruga deste trasbordante circundário existe uma Pentesileia é só a periferia de si própria e tem o seu centro em toda a parte, já renunciaste a compreendê-lo. A pergunta que agora começa a roer-te a mente é mais angustiante: fora de Pentiseleia existe um fora? Ou por mais que te afastares da cidade, te limitas a passar de um limbo a outro e nunca mais conseguirás sair?"

Numerosas teorias procuram também descrever os fenómenos, dar conta da complexidade e superar a crise conceptual da cidade actual.
A cidade contemporânea, segundo Solá-Morales, é na sua nova condição, múltipla, descentrada e fragmentada..Composta pelo relacionamento instável de varias categorias-sistemas (sócio-económico, artístico cultural, e físico-arquitectónico) solidificados num "precipitado" pela arquitectura.
Bru afirma que a realidade contemporânea é diversificada e inapreensível frente a qual qualquer leitura "só pode dar (...) conta de fragmentos para assentar, provisionalmente, interpretações (…)" -10-.

Como referimos, a complexidade actual do urbano é afrontada por múltiplas abordagens transdiciplinares que procuram definir a sua espeficidade. Qualquer discurso sobre a cidade abandonou uma ideia de ordem em benéfico de uma ideia orgânica e por vezes caótica, que acentua o fluxo e a diversidade.

O projectos apresentados pretendem responder a uma ideia complexa de cidade, não limitada, e visam servir um sujeito deslocado, expressando a sua condição pós-moderna.
Esta exposição não é mais do que um registo transitório de fragmentos e simultaneamente serve como interface com outros momentos-lugares, virtuais e reais, que conformam a nossa cartografia pessoal – um novo mapa da cidade.

Porto, 14 de Outubro de 2000



1. Ignási Solá-Morales no perfácio de "Arquitectura de la indeterminacion", Yago Conde, Actar, 2000

2. George Teyssot, "Dialogues with Diller and Scoffidio" em Ottagono 96

3. Esta potencialidade no que se refere às representações digitais, é referida no ensaio "Desenhar com Bits", Fernando Lisboa, FAUP, 1998. Sugerimos igualmente o ensaio "Conceitos Gerais", Fernando Lisboa, FAUP, 1999.

4. Herzog, "The virtual house", 199

5. "Virtual Architecture", Conway Lloyd Morgan e Giuliano Zampi, B:T:Batsford Ltd, 1995, p.154

6.Veja-se "Techniques of the Observer", Jonathan Crary, MIT, concretamente o perfácio onde Crary identifica que a condição do observador analizado, se encontra posta em causa actualmente.

7. Sub)urbios e (Sub)urbanos - o mal estar da periferia ou a mistificação dos conceitos?, Álvaro Domingues em Geografia - Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. X/Xi, 1984/1985

8. Metapolis reporta para o termo utilizado por Françóis Ascher em Metapólis ou l´ avenir des villes, Editions odille jacob, Paris, 1996

9."As cidades invisíveis", Italo Calvino, 199, p.159

10. Eduardo Bru em "Nuevos paisagens", ACTAR, p.9

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Exposição "MUTE _ 2/3 projecto por m2_ 1996/2000"

1 - Escultura "TEMPO"
(Almada, 1996)

Equipe de projecto
• Gonçalo Furtado
• Paulo Furtado
• Nuno Silva
• José Pedro Sousa
2 - Discoteca "SOM"
(Figueira, 1999)

Equipe de projecto
• Gonçalo Furtado
• Inês Moreira
• com Pedro Pessoa e Vukasin Gajic
3 - Cibercafé "INFORMAÇO"
(Lsboa, 2000)

Equipe de projecto
• Gonçalo Furtado
• Inês Moreira
• João Pedro Saleiro
• com Pedro Ramalho, Pedro Carvalho
e Paulo Moreira
Ficha técnica:

Organização
- MUTE (mute a popmail.com)
- José Barbosa/ http://www.exteril.com

Textos- Gonçalo Furtado / MUTE

Instalação- Pedro Carvalho

Design Gráfico- Mariana Serra

Apoios- EXTERIL
Pedro Pinho / Sinalux
PANDEMIA, Design e Comuicação Visual, Lda

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Curadoria de
Curated by
Teixeira Barbosa
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