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Observatório
As caixas são ocas, as caixas são brancas e geométricas – concisas à maneira minimalista de Morris e Smith (escala apropriada, versão doméstica). São caixas desenhadas com passagens circulares em óculo. São caixas para ratos, algumas para pássaros, a maioria para ratos. Funcionam em colectivo, em correlações espaciais (durações orgânicas), nos limites de um quarto branco luminoso (galeria ou divisão apropriada para o caso).
Caixas de sombra (privação da vista), corredores cegos perscrutáveis (música para os olhos/ pérolas negras para rato), deambulações sobre as arestas, viragens nos cantos, encurtamentos diagonais (meditação sobre os passos), intervalos transitáveis – paisagens pretas e paisagens brancas (escuridão...luz... escuridão – num piscar de olhos), locomoção e fuga, sem orgulho e sem pedras na cintura (buraco negro à vista), esquema das coisas, leis da natureza, alta velocidade, desocupação em voo, batimento ininterrupto em delírio, ( ), por pouco, colchão de jornais finalmente, rato empo(l)eirado e bem alimentado (ou esfomeado), mito e vida.
Há outra figura – figura enfática e icónica, plano inaugural em sombra, superfície de abismo, quadrado preto no quarto branco luminoso. A figura ajusta-se e combina (coelho/cartola)... inspiração de janela negra, casa com vista (espessura)– paisagem humana, imagem do interior da pálpebra.
Que diversão que é, como me divirto a pensar nestas caixas para estes pequenos seres, que existem em muito maior número do que seres humanos.
Armando Ferraz, 2020
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