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Inauguração
Opening

15.11.2025

16h / 4 pm
Sábado / Saturday

até 19.12 until

ALEXANDRE A. R. COSTA

"In devenire: esboço e esboceto"
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"In devenire: esboço e esboceto"

Num tempo em que a história parece repetir-se com toda a violência e esquecimento, e em que o excesso e o artificial moldam uma sociedade em tensão, precisei por algum tempo de um lugar de silêncio – como reencontro, não como fuga. No bosque, à noite, desenhar tornou-se também um ato de vigília. O carvão traduziu o impercetível, o frio por vezes moldou-me o traço, e a natureza impôs ela própria o seu ritmo à mão que tentava esboçar. Esta ação, efémera mas dedicada, buscou no inacabado a sua força – afirmando uma prática onde o atelier que tenho na cidade se prolongou naquelas paisagens fora dela. O esboço abriu-se então ao mundo numa dimensão de diálogo e de partilha.

Este projeto parte precisamente da prática do esboço na paisagem, evocando Barbizon, a floresta de Fontainebleau e a ação en plein air – deslocando esse gesto para o bosque noturno, onde, durante meses, o real e a experiência sensível com a luz (sempre na sua procura – mesmo quando o mundo se apresenta em sombras..) foram levados a certos limites. As caminhadas e a atividade de desenhar decorreram sob condições noturnas frequentemente adversas: temperaturas baixas, caminhos difíceis, fraca visibilidade, ativação dos bastonetes retinianos e da visão periférica – transformando o gesto, o traço e a mancha em acontecimentos físicos e percetivos.

De regresso ao atelier, após uma certa exaustão psíquica resultante deste modus operandi solitário, trouxe comigo alguns elementos naturais e esboços de pequena ou média dimensão, feitos quase todos a carvão sobre papel de alta gramagem. Diferentemente do modelo Barbizon – em que os esboços realizados na floresta eram posteriormente finalizados no atelier –, aqui o esboço é retomado noutra escala, desenvolvido exclusivamente de memória e deixado na parede sem acabamento nem conclusão. Por perto, repousam outros materiais que podem dar origem a esbocetos – apontando para a escultura, o vídeo, a performance e o gesto partilhado.

Com o tempo e o recurso à memória, aquela cena imaginada tornar-se-ia indivisível do atelier – este espaço emerge como extensão vital do projeto. É aqui que a reinvenção ganha lugar; é aqui também que o trabalho se abre à partilha, à cooperação, à inquietação e à alteridade trazida pela presença do outro – pela comunidade que ali vive, frequenta ou passa, quase sempre de modo imprevisível.

É neste território diabático que o conceito de esboceto adquire uma dupla potência. Por um lado, enquanto forma tridimensional embrionária – uma pequena escultura ou maqueta que projeta e prolonga a ideia. Por outro, reapropriado enquanto gesto inacabado, coletivo e sensível, que emerge nas sessões partilhadas como autoexpressão pelo acesso ou pelo desvio e eventualmente como paródia do próprio fazer artístico.

A prática artística adquire assim uma dimensão própria e inteligível do coletivo, numa participação aberta à responsabilidade de codecisão – processo vivo de investigação e construção estética, ética e politicamente enquadrada – enraizada naquilo que a natureza esclarece e na consciência do Outro. Aquilo que se apresenta mais informe ou inacabado é aqui compreendido como matéria e forma incorporada de conhecimento – assim, o atelier deixa de ser apenas local de produção individual liquidante para se tornar espaço de relação e reinvenção permanente.

Mais do que representar, este projeto propõe uma partilha do sensível como gesto de resistência e reflexão – onde arte, crítica e comunidade se entrelaçam como forças em tensão criativa, para lá de qualquer ordem prescrita. Neste contexto, o esboceto afirma-se como potência vital, e a expressão transitiva torna-se gesto consciente: o inacabado não resulta de qualquer tipo de descuido, mas sim de uma escolha – uma afirmação política de abertura ao Outro, à deriva e à reinvenção, de manter o processo em permanente reativação, em diálogo e construção contínua de comunidade afetiva e crítica.

Pergunto: não será apenas no comum – e não na clausura do eu – que a experiência vital e a própria arte encontram o seu real sentido? Agradeço profundamente os momentos de encontro, o estarmos juntos, e tudo o que aprendo sempre que podemos partilhar o fazer.
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Alexandre A. R. Costa


Artista cuja prática transita entre escultura, desenho, imagem e som, integrando performance, curadoria e projetos cooperativos com foco no território, na comunidade e no projeto criativo partilhado. A partir de modos de fazer implicados e in devenire, desenvolve um processo transversal, enraizado na imprevisibilidade, na relação com a paisagem, na abertura à dimensão do Outro e no atelier – entendido como território aporético de produção e reconfiguração contínua da experiência sensível partilhada. Entre uma estética em fluxo, o político e o intersubjetivo, o seu trabalho afirma-se como dispositivo crítico, propondo uma epistemologia contra-hegemónica, alicerçada na fenomenologia do vivido, na ecologia do lugar e numa ética da alteridade.

Desenvolve trabalho no âmbito das artes plásticas e da performance desde 1996 em Portugal, Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Espanha, Lituânia, Indonésia, Brasil, Canadá e Estados Unidos da América. As práticas de curadoria e de direção artística acontecem desde 1999, organizando exposições, eventos e fundando projetos e espaços culturais independentes na cidade do Porto, outras cidades do norte de Portugal e no estrangeiro como São Paulo e Berlim. 

Pós-Doutoramento, Universidade do Porto, 2023 e Doutoramento em Belas Artes, Universidad de Vigo, 2016 como Bolseiro Internacional FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Professor Auxiliar Convidado do Departamento de Artes Plásticas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto; da EAAD da Universidade do Minho e Investigador do i2ADS – Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade.

https://alexandrearcosta.com/

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Curadoria de:
Curated by:
Teixeira Barbosa

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Metro
Subway
- Faria Guimarães
- Marquês de Pombal
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Localização
Location
exteril - mapa
Rua do Bonjardim, 1176, Porto - Portugal
Aberto na Inauguração
Open at opening
Visitas por marcação após inauguração
Visits by appoinment after opening
exteril@gmail.com
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