Após uma investigação aprofundada sobre o encadeamento das noções de corpo/casa/cosmos, o vídeo apresentado ocorre como um pequeno exercício que o ensaia e enfatiza.
Ancorado por dois trabalhos distintos – um desenho de grande escala, juntamente com um cobertor, feitos a partir da configuração de um telhado, e um tecido com um bolso cosido e três imagens manipuladas de uma maquete de uma casa (tecidas, recortadas e coladas) – o vídeo centra-se no vínculo que o território e a casa estabelecem com o corpo.
O desenho surge a partir de um spolvero que transporta a configuração do telhado da casa e que é submetido a uma grelha. Os pontos e manchas de pó são unidos com linhas fluídas de forma a remeterem para a ideia de sistema venoso. Paralelamente, o cobertor segue as mesmas premissas. O que cobre o corpo designa-o, simultaneamente. O corpo que respira por baixo do cobertor cria uma imagem híbrida, sempre prestes a ser renovada.
As três fotografias manipuladas resultam da tentava de pensar a casa a partir do território onde se insere, restituindo-lhe visibilidade. Nesse sentido, o segundo tecido é entendido como o território onde a casa existe. Na paisagem que o tecido representa, a fenda afigura-se como bolso, que se molda ao redor da mão.
O “Nunca mais gostei da minha mãe" trata-se de um registo sonoro de memórias familiares,
uma partilha de traumas e de como estas podem ser experienciadas por uma geração e transmido às gerações subsequentes.
O artista convida a sua mãe e o seuti o para discutir episódios passados, onde a personagem principal, a avó, e um conservadorismo típico de uma época poderá ter moldado a sua descendência.
São dois irmãos que carregaram o passado de forma bem diferente. Ambos traumazados. Um foge para o Brasil, a outra, fica por cá a “cuidar” da mãe depois da morte do pai. Não dava para ser de outra maneira.
Tareias, Melros mortos, revistas rasgadas, cobras que eram afinal paus, chantagem, a amante do salazar alimentada com regueifa de um bom homem, escorpiões, sardões e mais cobras, ter a carta e ser mulher - é do que se fala aqui. Não era fácil ser filho/a da minha avó.
I SEEM TO (UN)KNOW´ é um exercício-objeto de discernimento, uma colisão entre as competências que me foram instruídas e a necessidade de as questionar por dentro. Ao reaprender a re-aproximar, ao re, àquilo que se repete, àquilo que se contraria. Aprendi a contar e os números sempre foram a mesma coisa e sempre obedeceram às mesmas regras. A sua justa- posição é sempre a mesma. Mesmo quando a ordem é trocada visualmente, o nosso cérebro aprendeu a justa-posicioná-los e a preencher o espaço-entre. Para poder desaprender e perfurar, questionam-se os limites das coisas das quais nos queremos re-aproximar. Vim a perceber, que não é possível nenhum reconhecimento de liberdade sem a existência de limite. Este vídeo é um exercício de desobediência.
E o que eu vi era mais do que eu podia suportar
[...]
As imagens significam tudo a princípio. São sólidas. Espaçosas.
Heiner Müller
As trevas afirmam que são a luz
A erva cresce, sempre.
As paisagens são belas
Atravessam um poema antigo que se dissolve em imagem
No escuro todas as perguntas são lançadas
Nos olhos vazios do tempo.
O anjo da História carrega os destroços do passado
Nos ombros as asas de tempo e chumbo
Em Auschwitz
Os pássaros emudeceram.
Ah, a arte! Procura de sintaxe e sendo.
(1996)
Move-se entre o desenho e a escultura.
A sua práca artisca é muldisciplinar e tenta esgotar o maior número possível de direcções processuais, recorrendo ao bi e ao tridimensional, num processo encadeado que se vai desenvolvendo a partir daquilo que gera. Assim, através de técnicas imputadas a áreas distintas, como o desenho, a tecelagem, a escultura, a cerâmica e o vídeo, os projectos surgem numa relação rizomática e hipertextual.
A temática mais prevalecente no seu trabalho move-se em torno do que é periférico e tido como banal, sobretudo na esfera doméstica, restituindo-lhe relevância. O seu conjunto de trabalhos mais recente pensa a casa e a sua relação com o corpo e o território num movimento continuo de redescoberta.
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Hugo Flores
(Paredes, 1989
Artista Visual licenciado pela Faculdade de Belas-Artes do Porto, e Mestrado pela City and Guilds of London Art School, Londres, onde viveu e trabalhou entre 2013 e 2012. Hugo Flores tem vindo a trabalhar e a expor regularmente desde 2013, destacando-se as exposições, The New Black, The Void Collece, Londres; This Is The House We Built, 29 acres, Londres; In situ, conceptboard, Londres; Não, Artes, Porto. O seu trabalho foi também destacado na revista Archive 00 by Saint Maison, Tokyo.
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Rúben Fernandes
(1995)
Natural de Caldas da Rainha. Atualmente residente no Porto (desde 2019). Artista Plástico. A sua prática tem como objetivo, decifrar (bem e mal), uma postura empírica no mundo. Através do desenho, pintura e instalação. Estabelece Não-lugares pictóricos e diálogos entre essas experiências e narrativas incoerentes.
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Teresa Arega
(Ilha da Madeira, 1997) é artista visual.
Concluiu em 2019 a licenciatura em Artes Pláscas - Pintura, na FBAUP e vive no Porto.
Expõe a solo e colectivamente em várias cidades do país e participa em projectos colaborativos com outros artistas, activamente desde 2014.
O seu trabalho reflecte o seu modo de estar através de instalações site-specific, que incluem o desenho, a pintura e a escultura. Permeado por uma preocupação acesa em questionar problemas contemporâneos, o trabalho da artista coloca o cinismo e a esperança frente a frente.
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Xai [António Fernando Silva]
Valbom - Gondomar,. 1962
Desenvolve atividade artistica e expositiva desde 1988.
Exposições Individuais: BÓIA Galeria OCUPA, Porto, 2019, Exposição integrada na 5a edição MEXE - Encontro Internacional de Arte e Comunidade! O Comum em Tempos de Confusão. Projetos Coletivos: Circulo na ideia do tempo. Avelino Sá | Xai Galeria Elevador – ESE P.Porto. Dez 2020 Jan 2021; CAVERNAME. Maurício Adinolfi | Xai. Quase Galeria e Museu Nacional Soares dos Reis, no âmbito do Ciclo Ações estéticas quase instantâneas. Porto. 2019. Exposições Coletivas: IMAGENS DE PALAVRAS E ROMANTISMO | S?OWOBRAZY & ROMANTYCZNOS´C´, Opinogóra, Polónia. Abril-Maio 2023; Resistir com Arte, Reivindicar o Lugar da Arte. Sá Coutinho; Manuel Porfírio; Joana Rêgo; António Gonçalves; Domingos Loureiro; Xai P. Artes. Porto Jan 2022; Studiolo XXI – Desenho e Afinidades. Fundação Eugénio de Almeida Centro de Arte e Cultura – Évora, 2019
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Curadoria de
Curated by
Araújo Mota Teixeira
é um coletivo composto por Fábio Araújo (1996), Rui Mota (1997) e Alexandre Teixeira (1996), formado em 2022. Integrando dois artistas plásticos e um programador cultural, o coletivo resulta de uma sucessão de acontecimentos e encontros onde o principal tópico de discussão era de potencializar e concretizar ideias e projetos.